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Menos Pressa, Mais Resultados: Como Parar de Comer no Piloto Automático

Alimentar Autonomia - Edição #043

Essa semana decidi retomar um anime que não assistia há anos.

"One Piece" é um anime famoso sobre piratas e enfim, diversos temas paralelos.

Não é para menos, atualmente, são mais de mil episódios, quinze filmes e sabe deus quantas horas de conteúdo.

A vantagem é que os episódios costumam ter pouco mais de vinte minutos, o que permite encaixar em pequenas folgas durante o dia.

Ontem, liguei a TV e coloquei um episódio para assistir enquanto almoçava.

Para minha (não tão grande) surpresa, acabei de comer antes do fim do episódio.

O que trouxe um questionamento:

"Comi um prato de comida cheio, em menos de 20 minutos?"

Não era um sanduíche pequeno qualquer, eram 200g de abóbora cabotiá, 150g de carne moída e 100g de beterraba cozida.

Quase meio quilo de comida, alimentos densos e consistentes, devorados em menos de 20 minutos.

Confesso que me assustei com tamanha voracidade.

Eu nem estava com tanta fome assim.

Tenho focado bastante na minha alimentação nos últimos anos.

Entretanto, grande parte desse foco fica preso em quantidade e qualidade.

O que motivou essa ação intempestiva?

O que eu estou deixando passar?

Jesus, tô atrasado!

Comemos rápido demais

É comum que ao iniciarmos uma dieta, nos foquemos em duas variáveis:

  • Quantidade

  • Qualidade

A qualidade do que comemos importa. (LINK ED 07)

A origem, os nutrientes que eles nos fornecem e como interagem com nosso organismo.

Quais vitaminas estou consumindo ao comer este alimento?

A quantidade que comemos importa. (LINK ED 13 e 14)

Quantas calorias fornecem esta refeição?

Quantas gramas de proteína, carboidrato e gordura contêm?

Ambos importam e são tópicos que merecem nossa atenção.

Mas, esquecemos de uma terceira variável, potencialmente mais importante que as anteriores.

"Como" comemos é um viés que passa desapercebido até mesmo por olhos treinados.

Uma refeição com vegetais e frutas orgânicos, ovos de galinhas felizes e zero industrializados e/ou gorduras trans, continua não sendo saudável se é devorada as pressas enquanto se arruma para ir ao trabalho correndo e assiste aos stories que "perdeu" no dia anterior.

Antes de nos preocuparmos com quão saudável é aquele alimento específico, ou ainda, quanta proteína tem naquela refeição, deveríamos nos preocupar com "como estamos ingerindo aquele alimento/refeição".

Ao final, esta é, dentre as três variáveis acima, a única que está 100% sob nosso controle.

A qualidade de um alimento varia absurdamente, mesmo quando selecionamos os melhores itens possíveis.

Clima, qualidade do solo, estação do ano, adubos/fertilizantes ou quaisquer outros químicos utilizados ou não no seu cultivo.

Enfim, a gama de variáveis é absurda. Impossível de serem controladas.

Assim como a quantidade: a quantidade de calorias, proteínas, carboidratos e gorduras em uma porção de um alimento são estimativas.

Uma maça não é igual a todas as maças. Entende? A vida não é uma ciência exata, acostume-se com as incertezas.

Agora, "como" você vai se alimentar, é sempre uma escolha.

Fazer uma lanche as pressas dirigindo para o próximo compromisso enquanto escuta aos áudios do seu chefe, não é saudável.

Sentar-se em uma mesa, sem distrações e dedicar-se ativamente para aquela refeição, é.

Adoro o termo inglês "mindlessly". Nunca encontrei uma tradução em português que fizesse jus a ele.

As possíveis são: "negligentemente", "descuidadamente", "estupidamente", dentre outros.

"Mind" significa "mente". "Less" é o sufixo que denota "sem".

Mindless ao pé da letra seria "sem mente", ou então, "sem consciência".

Gosto de brincar com as palavras e seus significados, acredito que subestimamos o quanto o uso correto delas impacta na qualidade de nossas vidas.

Pq fazemos isso?

Estimo que 97.5% dos meus leitores (fonte: vozes da minha cabeça) vivam em um país majoritariamente industrializado.

Isso significa que, gostemos ou não, estamos envoltos por características peculiares a estes.

Vivemos de maneira rápido, cheios de distrações a nossa volta.

O cenário se agrava proporcionalmente baseado no tamanho da cidade em que vive.

Tempo é tempo, pode parar com essa de tudo vira dinheiro…

Cultura

Crescemos escutando a máxima "Tempo é Dinheiro".

Logo, entende-se que tudo bem trocar nosso tempo por dinheiro.

Troca no mínimo questionável, se pensarmos que um deles não volta.

Não bastasse aceitar essa troca injusta, ainda tiramos tempo de atividades que não nos trazem dinheiro.

Onde foi que passamos a valorizar tanto assim o capital?

Distrações

Muita coisa demanda nossa atenção durante o dia.

Eletrônicos em geral (TV, celular, e-mail, redes sociais), crianças (para os papais e mamães), trabalho, trânsito.

Nos acostumamos a correr pelo dia como numa prova de obstáculos.

Começamos o dia já pensando no "leão a ser morto" hoje.

O sentimento gerado por uma agenda cheia é de orgulho, como que "ser ocupado" demarcasse o "sucesso na vida".

Mas qual o problema disso?

É assim que seu jantar costuma ser? Espero que não!

Quando nos deparamos com uma problemática deste tipo, apelamos para nossa necessidade animal de pertencimento como forma de atenuar a gravidade.

O primeiro pensamento/raciocínio que vem a nossa mente é: "Mas isso é normal hoje em dia".

Normal faz referência à norma, aquilo que predomina como padrão.

Não necessariamente, àquilo que é saudável.

Lembre-se, a máxima utilizada pelas mães de todo o país cabe aqui:

"Você não é todo mundo".

Fome e Saciedade

Essa rotina acelerada e sem presença durante as ações nos leva a negligenciar diversas características.

Paramos de notar o que acontece a nossa volta, e ainda mais danoso, o que acontece dentro de nós!

Fome e saciedade são processos complexos que envolvem uma cascata hormonal e diversas reações químicas e físicas.

Muito deste processo depende de que aloquemos atenção e concentração no nosso corpo.

Você realmente come quando sente fome, ou simplesmente porque é "hora do café da tarde"?

Você realmente para de comer quando se sente saciado ou devora tudo até o prato acabar?

Perdemos a capacidade de diferenciar fome de "vontade de comer".

Perdemos a capacidade de identificar as reações que os alimentos causam no nosso corpo.

Estresse (físico e psicológico)

Lembra daquela sensação de explosão iminente que sentimos após devorar 3 pratos de feijoada?

Pois então, aquele desconforto não é gratuito.

É um grito do seu corpo clamando por parcimônia e forçando fisicamente que você pare!

Pior do que se sentir uma sucuri que engoliu uma capivara sem mastigar, é a sensação psicológica que a acompanha.

Culpa, arrependimento, mal-estar, auto depreciação, julgamento.

Os sentimentos decorrentes dessa rotina desvairada não são tão entusiasmantes quando parecem.

Pelo contrário, geralmente são causa ou agravantes de transtornos alimentares gravíssimos.

Obesidade

Obesidade é multifatorial. Fato inegável.

Não existe uma única causa para o excesso de peso que 2.3 bilhões da população mundial apresentam.

Uma vida acelerada demais, sem presença, cheia de distrações e valores deturpados com certeza contribui para tais números.

Slow Food

Desculpem, mas tive que compartilhar essa pérola que a IA gerou… “IA vai substituir a arte”

"Comida lenta", na tradução literal.

O movimento foi fundado na Itália pelo "xará" Carlo Petrini em 1986, em resposta à crescente disseminação das redes de "fast-food".

O compatriota (sim, sou um brasileiro típico, vulgo "cachorro caramelo" e tenho uns 12.5% de italiano na mistura) se tornou um símbolo da luta contra as grandes redes (especialmente McDonald's) quando abriu uma lanchonete no centro histórico de Roma.

A filosofia do movimento vai além do óbvio "desacelerar".

Defende a necessidade de informação do consumidor sobre a origem e procedência dos alimentos.

Protege identidades culturais ligadas a tradições alimentares e gastronômicas (alimentos, comidas, processos e técnicas de cultivo e processamento herdados por tradição) além de defender espécies vegetais e animais.

A rebeldia (com causa) do Carlinhos foi além e culminou numa organização não governamental de mesmo nome, e ainda, numa Universidade de Ciência Gastronômica.

Você não precisa levar isso tão a sério, mas pode incrementar alguns dos objetivos na sua rotina.

Valorizar qualidade, sustentabilidade e tradições na produção e consumo de alimentos não fará bem só para sua saúde, mas também para sua comunidade local.

Potenciais benefícios do "Slow Food":

  • Reconecta as pessoas (você incluso) com o que comem.

  • Promove uma alimentação saudável (viés qualidade resolvido) e consciente (viés quantidade resolvido).

  • Valoriza o agricultor e a cadeia de produção (comunidade local beneficiada).

  • Produz alimentos de forma a respeitar o meio ambiente e as pessoas (mundo beneficiado).

O lema do Slow Food é "alimento bom, limpo e justo".

O que fazer?

Dito tudo isso, a única semelhança entre o criador do movimento Slow Food e este que vos escreve é o nome e os 12.5% de descendência italiana.

Sou péssimo quando o assunto é velocidade em se alimentar.

Ou talvez seja ótimo, já que como com uma rapidez que deixaria Usain Bolt com inveja.

Não sei ao certo se um hábito desenvolvido durante os 10 anos em que trabalhei como médico em serviços de urgência e emergência ou se uma manifestação subestimada de ansiedade.

É comum entre médicos, enfermeiros e outros profissionais que trabalham em escalas 12/36 terem hábitos alimentares irregulares.

Muito frequentemente a imprevisibilidade das demandas nos impede de manter uma rotina regular de alimentação.

Perdi as contas de quantos almoços aconteceram as três da tarde, foram substituídos por um lanche de iFood ou então, jamais aconteceram.

Como extremamente rápido. Sempre comi, e a rotina laboral agravou essa característica.

Venho trabalhando para mudar isso, mas a jornada é longa.

Hábitos são imortais, não sumimos com eles da noite para o dia.

Precisamos transformá-los, em versões menos nocivas e, quando possível, proveitosas.

Mas como?

Cronometrar Refeições

Te desafio a demorar mais tempo comendo do que preparando uma refeição!

Monitorar algo é a forma mais eficaz de otimizá-la.

Essa é uma das maiores verdades que aprendi nessa vida.

Tudo aquilo que recebe nossa atenção, evolui.

Cronometrar o tempo que leva para realizar suas refeições pode parecer exagero, mas funciona.

Monitore, anote e compare o tempo.

Encontre padrões e busque melhorar (neste caso, ficar mais lento).

Você vai se surpreender o quão rápido é capaz de engolir um prato de comida.

Fazer algo entre as "mordidas"

Adicione um ritual entre cada porção de alimento ingerida durante a refeição.

Você pode:

  • descansar/largar os talheres até terminar de mastigar e engolir.

  • respirar (conte três inspirações entre cada "garfada").

  • tomar um gole pequeno de água (cuidado, pode distender muito seu abdome e gerar certo incômodo).

  • contar o número de mordidas que dá (mastigar o alimento é parte importante do processo digestivo, sabia?).

Não importa, crie sua "regra interna". Ninguém precisa saber.

A vantagem é que vão te achar menos maluco do que se te virem cronometrando seu almoço.

Deguste sua refeição como um especialista em vinho

Safra de 1990, norte da Romênia, região da Sildávia, notas de frescura e tons de mentira…

Alimente-se como um sommelier de provaria sua taça de vinho.

Use todos os seus sentidos.

Aprecie a beleza da comida.

Sinta o cheiro e que aqueles odores despertam em você.

Mastigue e perceba o tato do contato do alimento com sua boca e língua.

Perceba os sabores.

Enfim, você entendeu.

Paremos por aqui antes que isso vire uma descrição da cena de jantar entre a Dama e o Vagabundo.

Aprenda a saborear tudo que uma boa refeição pode te proporcionar.

Nem só de macronutrientes vive uma alimentação saudável.

Ambiente sem distrações

Manipule seu ambiente. Seja um arquiteto da sua realidade, não apenas um produto passivo do meio.

Troque o café da manhã corrido na cafeteria de rua no estilo "grab n' go" no caminho do trabalho por um café da manhã feito em casa, sem correria, sentado na mesa.

Evite almoçar sobre a mesa do escritório enquanto lê e responde e-mails.

Não jante um ifood na frente da TV enquanto assiste a Netflix.

Seja intencional.

Tire seu celular de perto.

Reduza distrações.

Crie um clima que facilita calma, atenção e presença.

Siga sempre o mais lento

“Os últimos serão os primeiros”, não é isso que reza a lenda?

Adoro fazer trilhas, e, uma das regra que aprendi neste contexto pode ajudar nesse quesito.

A regra clássica de trilhas: Quem dita o ritmo é sempre o mais lento do grupo.

Use esta mesma mentalidade caso você costume fazer refeições com outras pessoas.

Vai almoçar com o pessoal do escritório? Siga o ritmo daquele amigo que sempre termina por último.

Aposto que tem alguém da sua roda de amigos conhecido por comer devagar.

É uma forma de controlarmos nossa ansiedade e ímpeto de acelerar um processo que deveria ser lento.

Perceba o que te afeta

Teste as estratégias acima, e repare no que influencia a velocidade com que se alimenta.

Pode ser o ambiente, as pessoas a sua volta, o contexto com que faz a refeição.

Busque padrões, aprenda sobre você mesmo e, dessa forma, altere seu comportamento.

Tornar-se um especialista em você m,esmo, faz parte do processo de emagrecimento.

Use a tecnologia a seu favor

As tecnologias vieram para ficar e, longe de mim, advogar contra elas.

Muito ao contrário, sou um vívido entusiasta de várias delas.

Uma faca pode ser usada para preparar uma refeição saborosa ou ferir alguém querido.

O problema está em como utilizamos cada ferramenta.

Existem uma porção de aplicativos para celular que ajudam nesse contexto.

Não uso/recomendo nenhum em particular, já que tenho tentado tornar minha existência mais analógica na medida do possível.

📍 🥵 "Skin in the Game":

Expectativa: ganho massa magra

Realidade: Perda de 0.4kg.

📝 Retornando aos poucos ao peso "real", após os abusos cometidos na viagem. Dia após dia a rotina de treinos e alimentação conforme o planejado reduz a retenção hídrica e recupera o tônus muscular de outrora. Paciência e consistência (LINK ED 002) são as chaves para os resultados.

⏬ 🧠 "Download Mental":

Livro com 366 meditações estoicas contemplando os principais pensadores dessa vertente filosófica. Ele propõe a leitura de uma ou duas páginas diárias refletindo sobre um ensinamento específico. Retomei a leitura este ano, encaixei logo após o café da manhã (vincular com um hábito já existente é uma ótima maneira de automatizar novos hábitos).

💚 ☕ 🍋 Torta de (C)limão

Wafle com creme e sorvete de pistache. É sorvete, difícil ser ruim né.

Não é só comer que carece de atenção.

A velocidade com que levamos a vida aumentou nos últimos anos.

Segue aumentando, e não dá sinais de retrocesso.

A maneira como você faz as coisas mudou nos últimos anos?

Você se tornou uma pessoa mais ou menos presente?

Tenho tentado encontrar um padrão nos meus comportamentos.

Tenho tido alguns insights valiosos quanto a vida, não só quanto à alimentação.

Te convido a pensar um pouco sobre isso hoje, enquanto prova uma torta de limão:

"Qual a maneira como você faz as coisas?"

🫵🏽 Caso faça sentido para você:

  1. 🥇 Está cansado de seguir dietas mirabolantes e de não alcançar seus objetivos? Você não precisa enfrentar esse desafio sozinho.

    📍🗓 Agende sua consulta AQUI.

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Câmbio,
Carlos E. Silva