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Chutei o balde, e agora? Como retomar a rotina após exageros
Alimentar Autonomia - Edição #015
Terça-feira chuvosa, 19h26, sensação térmica de 9°C.
Cheiro de fumaça de churrasco, típico de quando a gordura da carne evapora na grelha.
Seis espetinhos de contrafilé, vinte e duas peças de sushi, duas porções de shimeji na manteiga.
Esse foi o saldo até então. Parei de contabilizar depois que abri o botão da calça para acomodar a pança proeminente.
O total ingerido naquela noite é incalculável.
Não ouso estimar a quantidade de sorvete de melão consumido.
A orgia alimentar acima descrita aconteceu em um restaurante japonês típico aqui da cidade.

O preferido do Choji!
Acredito que tenham sido os primeiros da região a funcionar no estilo "Yakiniku", o churrasco japonês.
Eles combinam a comida japonesa clássica com sushi e pratos quentes com a possibilidade de preparar sua própria carne em grelhas individuais na sua mesa.
Como se não bastasse, o restaurante ainda disponibiliza opções de sushi doces e máquina de sorvete e refrigerantes no estilo refil.
É diabolicamente genial.

Chihiro ficaria assustada com o resultado da noite
O ambiente desperta o pior que existe dentro de mim.
Para alguém que historicamente luta contra compulsão e exageros alimentares, até que me contive.
Era uma ocasião especial. A visita de um primo do interior à cidade.
O jantar nesse restaurante se tornou quase que um ritual desde sua primeira visita.
Tem uma função que ultrapassa a nutrição pura.
Mas, fato é, é um exagero.
"Chutei o balde"

A expressão "chutar o balde" é usada quando realizamos exageros.
A cena de alguém literalmente chutando um balde, me soa cômica.
Mas afinal, por que "chutamos o balde"?
Por que cometemos tais abusos?
Por que exageramos?
O comportamento humano é coordenado pelas emoções.
Acima de 90% das nossas decisões são tomadas pela parte não consciente de nossos cérebros.
Daniel Kahneman ficou conhecido por seu livro "Rápido e Devagar", onde aborda com mais profundidade o tema.
Mas, como as emoções moldam nossas escolhas?
Emoções tomam as rédeas

Acredito que você já tenha ouvido falar da chamada Teoria do Cérebro Trino, de Paul McLean.
Apesar dela não ter se sustentado cientificamente nos dias de hoje, gosto da analogia feita.
Nela, o neurocientista afirmava que possuímos "três cérebros", desenvolvidos durante o processo evolutivo.
Uma primeira camada, profunda, primitiva e rudimentar, chamado de Cérebro Reptiliano.
Uma segunda camada, desenvolvida por nossos ancestrais mamíferos, denominado Sistema Límbico.
Por fim, uma terceira camada, única aos humanos, moderna e especializada, chamada Neocórtex.
Nesse modelo, acreditava-se que quanto mais profunda e antiga a camada, maior a força de domínio sobre nossas ações.
O cérebro reptiliano controlaria nossas funções vitais e ações relacionadas com a sobrevivência.
O sistema límbico compartilhado com demais mamíferos, as emoções.
E o neocórtex, as funções avançadas como linguagem, imaginação e criatividade.
O cérebro humano se mostrou mais complexo que isso.
Hoje sabemos que a teoria não se sustenta.
Porém, uma afirmativa ainda segue verdadeira:
Emoção vence Razão.

Eu sei Spock, não precisava…
Nossa capacidade de racionalização é o que nos diferencia dos demais animais.
Mas, não importa quão racional você acredite ser, suas emoções tendem a vencer essa batalha.
Ao fim do dia, cansado e exausto fisicamente, fica difícil controlar seus impulsos instintivos.
"Liberdade" vira "Libertinagem"

"Só vou pegar um de cada”
Outra problemática envolvida nas situações de exageros alimentares provém do capitalismo.
Sim. Dinheiro também influencia em como nos alimentamos.
É difícil não levarmos o dinheiro em consideração durante a tomada de escolhas quando crescemos em uma sociedade pautada por ele.
Já reparou em como as promoções de restaurantes são arquitetadas para que comer mais seja uma vantagem econômica?
Exemplo: Um hambúrguer sozinho custa 25 reais. O "combo" hambúrguer + fritas + refrigerante, custa 35.
São "só 10 reais" para levar o adicional fritas + refrigerante, que por si só, aparece no cardápio por 15 reais, se comprado sozinho.
Essa estratégia se repete e faz com que a maioria das pessoas escolha pelo combo.
Ao final, compramos o combo pela ilusória vantagem financeira, mesmo não querendo as fritas e refri.
A estratégia é excelente para o vendedor, afinal, isso aumenta o ticket médio dos clientes.
Para o consumidor, entretanto, significa um gasto financeiro maior e mais calorias ingeridas.
A mesma lógica acontece em rodízios ou restaurantes "buffet livre".
Pagamos um valor fixo. Maior que o custo de um prato à la carte, mas com a promessa de comida livre.
O mesmo sentimento de vantagem financeira nos atrai.
Porém, a vantagem só se confirma se comermos grandes quantidades de comida.
Desconheço alguém capaz de ir a um rodízio de churrascaria e comer apenas um ou dois bifes.
Refeições Hiperpalatáveis
A comida por si só, tem influência nos eventos de exagero.
Ninguém exagera comendo rúcula.
Já viu alguém exagerar comendo chuchu?
Somos atraídos por alimentos saborosos.
Quanto mais doce, mais salgado, mais crocante ou mais cremoso, melhor.
Ou ainda, porque não, tudo isso intercalado e combinado!?

Nada contra a rede do palhaço, conheço até gente que gosta…
Imagine o combo tradicional das redes de fast food mais famosas:
Hamburguer gorduroso, quente e salgado.
Batata frita salgada e crocante.
Milk-shake doce, cremoso e gelado.
Quando ingerimos grandes quantidades de um mesmo alimento, passamos a desejá-lo menos.
Já reparou como sua vontade de comer a batata frita crocante e salgada aumenta após um gole do refrigerante doce e gelado?
Qual o real impacto de episódios de exagero?
Qual das refeições abaixo você recorda com mais detalhes:
Sua última ceia de Natal ou do almoço da última terça-feira?
A grande maioria terá uma nítida imagem da ceia natalina.
Sua memória não fixa eventos corriqueiros e repetitivos com a mesma vivacidade que eventos únicos e especiais.
Quando nos expomos a situações como estas, costumamos dar maior importância a elas.
Mas elas são mesmo mais importantes?
Qual o real impacto de um episódio de libação em nossa rotina?
Emocionalmente

Calma Spock, não desista de mim!
Assim como são motivados por emoções, eventos de descontrole geram emoções.
Na grande maioria das vezes, emoções ruins.
Culpa. Arrependimento. Vergonha. Decepção.
É inevitável sentirmos culpa e vergonha pela falta de controle.
Muitos inclusive, perdem a confiança.
Abandonando todo o trabalho feito até então.
"Agora não adianta mais"
Racionalmente
Apesar da visão deturpada que nossa mente aplica em eventos específicos como estes, ainda há salvação.
Analisemos os impactos dessas "escapadas" de forma racional:
Matemática

“Que terça-feira meus amigos…”
Aqui trago os dados da última semana do meu diário alimentar.
O evento descrito na introdução deste texto é real. Aconteceu.
Veja como um dia isolado de exagero, faz com que a média de consumo calórico suba.
O impacto diminui, se contabilizarmos a média mensal, ao invés da semanal.
É como parcelar a compra do seu celular novo no cartão de crédito.
A dívida foi feita, mas você não precisa pagá-la à vista!
Exemplo Visual
Adoro dados, em especial, a visualização deles.
Tornar números em imagens é uma arte.

1 evento em 1 semana

1 evento em 1 mês

1 evento em 100 dias
Repare como mesmo nessa representação gráfica “raiz”, um dia isolado perde a relevância.
Quanto maior o período de tempo analisado, menor se torna a relevância do evento.
Fisiologicamente

Chega saltar os olhos pra fora!
A ingesta exagerada de alimentos traz alguns efeitos desconfortáveis.
Você pode precisar de um repouso maior que o habitual após a refeição.
Sonolência e cansaço começam logo após o evento.
Em alguns casos, constipação ou diarreia nos dias seguintes.
Assim como um sentir-se “inchado” é normal.
Casos extremos podem gerar até mesmo dor, devido à distensão abdominal.
Eventos isolados não chegam a comprometer o metabolismo de uma pessoa saudável.
O problema é quando estes eventos deixam de ser isolados, e tornam-se a regra.
O que fazer para evitar exageros
A prevenção é sempre o melhor remédio.
Imprevistos são quase sempre previsíveis.
Afinal, qual foi a última vez que você foi arrastado a força para uma churrascaria?
Natal e Páscoa acontecem uma vez por ano.
Não dá para dizer que fomos pegos de surpresa.
Programar-se com antecedência é a melhor saída.
Ambiente

“Cacildis”
Você não vê um ex-etilista frequentando bares, não é mesmo? Por que?
Não existe melhor maneira de evitar que um velho hábito volte a tona do que retirar o gatilho que o dispara.
Você não precisa de força de vontade sobre-humana para evitar as tentações com as quais não entra em contato.
Se você está passando por um processo de perda de peso, evite certas circunstâncias.
Locais específicos, restaurantes ou eventos onde sabidamente haverão tentações alimentares são perigosos nesses períodos.
Você não precisa isolar-se socialmente, mas moldar seu ambiente é a ferramenta mais poderosa para mudar um antigo hábito nocivo.
Quer parar de fumar? Evite tomar seu café na área de fumantes.
Quer parar de comprar guloseimas todas as tardes? Fuja daquela padaria que sempre passa depois do trabalho.
Imagine que você sai para passear com seu cachorro.
Você avista a frente um outro dono com seu cão, vindo em sua direção.
Sabendo que eles se estranharão e latirão um para o outro, você atravessa a rua.
Afinal, para que expor o animal a esse estresse desnecessário?
O raciocínio é o mesmo.
Foque na qualidade
Certas situações são inevitáveis.
Você não precisa deixar de ir na formatura do seu melhor amigo ou no casamento da sua irmã.
Muito menos faltar à ceia de Natal da família. Pelo amor de deus, não seja o esquisito da família.
Quando o conflito é inevitável, precisamos conhecer o inimigo o máximo possível.
Antecipe o menu do evento, e analise os alimentos com os quais terá contato.
Priorize comida de verdade e boas fontes de proteínas.
Durante meu duelo épico no restaurante yakiniku, foquei no espetinho de contrafilé.
Evitei os empanados e sushis com muito arroz ou molhos doces.
Dispensei o refrigerante e pedi uma água para acompanhar.
O estrago, ainda assim, foi absurdo.
Mas poderia ser muito pior.
Economize antes de se endividar

Quando sabe que terá de comparecer à um evento de potencial catastrófico, antecipe-se.
Reduza discretamente o consumo de calorias nos dias que antecedem o evento.
Um déficit de 5% diário, acumula um bom "saldo" em 3 dias, por exemplo.
No dia do evento, garanta uma boa ingesta de proteínas nas refeições que o precedem.
Proteínas costumam manter sua saciedade por mais tempo, o que ajuda a não exagerar na ocasião.
"Carpe diem"
Comida não é só nutrição e números.
Viva o momento. Não estrague seu evento por medo das calorias.
A vida tem mais a oferecer do que uma barriga negativa ou músculos definidos.
Não deixe de aproveitar sua vida e a companhia de quem ama por medo de comer.
Poucas coisas na vida, são irremediáveis. Dieta não é uma delas.
Você pode (e deve) reavaliar sua estratégia a qualquer momento.
O que fazer para voltar ao planejamento?
Não é uma dieta pro verão.
Não é um desafio de 30 dias.
Processos de emagrecimento são longos e demorados.
Eu estou falando de mudanças para uma vida toda.
Voltar ao planejamento é mais importante do que segui-lo com perfeição.
Falhar não te faz perder o que foi feito até aqui. Desistir, sim.
Cada ação que você realiza, é um voto a favor do tipo de pessoa que você deseja se tornar.
Nenhum evento isolado vai transformar sua vida de uma hora para outra.
Cada evento reforça uma identidade.
Qual identidade você quer reforçar?
Evite compensações/punições
A culpa gerada pelos eventos de exagero são seguidas por tentativas de compensação.
Queremos "correr atrás do prejuízo". Nesse caso, compensar as calorias ingeridas.
Não é assim que funciona. Punir a si só vai piorar o sentimento de falha.
Acolha seu erro. Aceite as consequências e tome providências.
Dieta
Jejuar por um dia inteiro ou então reduzir drasticamente as calorias não resolve.
Deixe o tempo agir a seu favor.
Retome seu planejamento alimentar, e dilua o "superávit" nos dias porvir.
Pague a dívida no crédito, em suaves prestações.
Exercícios
Correr uma maratona para queimar as calorias da orgia alimentar de ontem não resolve.
Além de improvável, tentar queimar as calorias de um jantar abusivo pode sobrecarregar fisicamente.
A digestão é um processo custoso para o corpo. Demanda energia.
Descanse, mas evite a inação total.
Uma caminhada leve é o ideal para manter seu corpo ativo sem demandar abusivamente da musculatura.
"A preguiça é a mãe de todos os mal hábitos. Mas, no final, é uma mãe, e como tal, devemos respeitá-la."
Não quebre a corrente
Retomar a rotina deve ser sua prioridade.
O peito de frango com vegetais e salada a vontade estão te esperando.
Não deixe a exceção virar regra.
Revise o seu "porquê" e recomece.
"Quando em dúvida, pergunte a si mesmo: ‘Por que é tão insuportável? Por que não consigo resistir?' Você se envergonhará de responder.”
Exageros acontecem.
Sempre aconteceram.
E continuarão a acontecer.
Convenhamos, isso é ser humano.
Até os mais comedidos e disciplinados já vestiram essa camisa.
Buscar a perfeição não é só irreal, beira a infantilidade.
Já passamos da idade de querer que tudo aconteça da maneira como idealizamos.
Ser adulto é ter um plano de ação (ou criar um) para quando as coisas saem do seu controle.
"O pessimista vê dificuldade em cada oportunidade.
O otimista vê oportunidade em cada dificuldade"
É cansativo conviver com quem profere reclamações sobre suas dores a todo momento.
Faça um favor a você e aos que estão a sua volta.
Sejamos agradáveis e foquemos na solução.
Ter um plano de ação para essas situações te trará calma e paz.
Um deslize isolado não compromete seus resultados de uma vida de esforços.
Por muito tempo odiei a palavra "dieta".
Ela trazia uma sensação de privação, limitação e sofrimento.
Hoje ela se tornou uma das minhas preferidas.
Dieta vem do latim, "diaeta", e significa "modo de vida".
Dietas não tem prazo para acabar.
Dieta é sobre manter-se no jogo, não vencê-lo.
Quando você aceita que o jogo não acaba, você para de sofrer pelas derrotas no meio do campeonato.
Aquele que não desiste é invencível (momento coach motivacional).
Construa para si a identidade de alguém que não desiste, e o tempo trará os resultados que vc tanto quer.
"Download Mental":
O livro aborda de maneira metódica a análise de situações desfavoráveis e ensina quando, de fato, a melhor escolha, é desistir. Ao contrário do que a maioria prega, Seth Godin defende que existem situações onde não colheremos frutos positivos. Essa é uma habilidade importante e que te economizará muita energia na vida: aprender a desistir.
"Skin in the Game":
🎲 Dados:
Idade: 34 anos
Altura: 1.83 cm
Peso: 85.3 kg
BF: 16.1%
IMC: 25.5 (Sobrepeso)

🧩 Variáveis:
Atividade Física: Crossfit 1h/dia, 5x semana (Moderadamente Ativo)
Objetivo: Perda de Peso (Déficit Calórico 10%)
Estratégia Nutricional: Dieta Flexível
FAT/CHO: Livre
🎯🧮 Metas / Matemática:
BMR: 1849 cal
TDEE: 2866 cal
Calorias: 2579
PTN ideal (2.2g/kg corporal) ≅ 192 g
PTN mínimo (1.8g/kg corporal) ≅ 156 g
Estimativa: -0.26 kg por semana
Realidade: -0.4416 kg por semana (-10.6 kg em 24 semanas)
Peso Inicial: 95.9 kg (29/01/2024)
Peso Total Perdido: -10.6 kg



📈 Observações:
Os gráficos dessa semana mostram como um evento de exageros aumenta a média calórica da semana.
Quando olhamos numa janela de tempo maior, percebemos que o prejuízo se dilui.
Ao final, não comprometemos os resultados.
Voltemos ao plano.
💚 ☕ 🍋 Torta de (C)limão

“Panquequinha com calda proteica de limão”
Chuva e frio nos últimos dias aqui em Curitiba.
Ir treinar é uma luta diária. Até sair pra tomar um café é desanimador.
Preguiça de sair de casa para qualquer coisa.
A previsão do tempo diz que o clima segue assim por um bom tempo.
Não adianta reclamar.
Reclamar nunca adianta.
Nunca vai existir um momento perfeito.
"O que você tem protelado fazer/começar com a desculpa de estar esperando o momento perfeito?"
Caso faça sentido para você:
🥇 Está cansado de seguir dietas mirabolantes e de não alcançar seus objetivos? Você não precisa enfrentar esse desafio sozinho.
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Werde der du bist 🪞🎯
Câmbio,
Carlos E. Silva
