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Como usar seu passado para emagrecer no presente?
Alimentar Autonomia - Edição #031

Sexta chuvosa em Curitiba. Caia uma garoa despretensiosa, quase que em câmera lenta.
Estava sentado na mesa do café anexo a um cinema alternativo, esperando pelo meu pedido enquanto assistia aquela cena digna de um filme indie melancólico que se passa em alguma capital do leste europeu.
Eu não estava ali para assistir a filme nenhum, e nem precisava. Minha mente estava tão criativa que até mesmo Kubrick teria inveja de mim naquele dia.
Eu queria apenas uma fatia de torta de limão e uma boa xícara de café superfaturada, enquanto tentava (e fracassava miseravelmente) alinhar meus pensamentos naquela tarde melancólica.
Assim que a torta de limão chegou, acompanhada do café, me peguei pensativo sobre o por que de tamanha fixação com a guloseima.
Convenhamos: não é a mais gostosa das sobremesas. Admito com pesar.
Dentre todas as infindáveis possibilidades de frutas no mundo para se fazer uma torta, limão é a menos óbvia.
Aposto ter sido criada por alguém que desesperadamente queria fazer uma torta, e, se viu sem qualquer outra fruta em casa.
Ninguém em sã consciência espremeria limões em uma mistura de açúcar e leite condensado para criar um doce.
Descartado o paladar, tive de recorrer a motivos menos palpáveis para a escolha.
O que imediatamente me remeteu ao passado.
Tenho a memória de incontáveis ocasiões inespecíficas vividas durante minha infância e adolescência, onde reuníamos todos à mesa, para saborear a torta de limão da minha mãe.
Os eventos não são nítidos nas minhas lembranças, afinal, aconteceram infindáveis vezes.
Tanto que, acredito ter criado um "compilado" deles, onde apenas duas variáveis mantém-se nítidas e fixas: família e torta de limão.
Nossos cérebros adoram criar correlações afim de facilitar o recrutamento de informação.
É como se categorizássemos inconscientemente os dados que temos (memórias, lembranças e aprendizados) para uso futuro.
Assim nascem a maioria dos nossos hábitos e padrões de comportamento.
Alguns, conseguimos identificar através de um "debriefing" simples, como minha paixão por torta de limão.
Outros, assolam nossa existência sorrateiros e mantém suas origens nas sombras até o fim dos nossos dias.
Mas afinal, o que nosso passado pode nos dizer sobre quem nos tornamos?
Ou melhor, como podemos usar nosso passado para moldar quem queremos nos tornar?

Saber fazer as perguntas certas (a você mesmo)
Anamnese
Parte básica e importantíssima da formação de um médico (e da grande maioria dos profissionais de saúde) é a chamada anamnese.
Trata-se de uma entrevista estruturada que visa coletar informações pertinentes sobre o paciente e sua potencial patologia.
A própria etimologia da palavra faz alusão ao passado: ana ("trazer de novo") + mnesis ("memória").
Aprendemos a dividir esse processo de forma cronológica: História Patológica Pregressa e História da Doença Atual.
Quando falamos de emagrecimento, ou seja, de obesidade, o fator temporal se expande à totalidade da existência do paciente.
Sabemos hoje que a obesidade é multi-fatorial (possui múltiplas causas), logo, têm-se de investigar toda a vida do paciente (ou até mesmo antes dela começar).
Foquemos primeiro no passado e vamos aprender a como analisar nossa própria história.
A ideia é compreender melhor a origem de nossos problemas com a balança.
A palavra história deriva do vocábulo grego "histor", que significa "aprendizado".
Ou seja, histórias existem para nos ensinar!

Aprenda com suas próprias histórias!
Divisão Cronológica
Nossa mente cartesiana linear têm a necessidade de alinhar informações baseada em um referencial.
O tempo é o mais fácil e comumente utilizado para tal.
Outra vantagem na divisão cronológica, se dá ao fato de ela também se alinhar à outra característica importante: o quão sugestionáveis somos em cada período.
Quanto mais novos, mais sugestionáveis.
O que aprendemos e vivenciamos na infância, tende a deixar marcas e moldar nossos padrões de comportamento de forma mais intensa do que eventos ocorridos na vida adulta.
Esta regra pode ser quebrada quando levamos em conta a intensidade estressante dos eventos (mortes ou grandes eventos vão deixar marcas independente da idade com que os vivenciemos).
Didaticamente, divido os eventos passados em duas grandes janelas de tempo:
Desenvolvimento (compreendendo a infância e a adolescência)
Vida Adulta

Mini Carlinhos aprendia bem mais fácil!
Desenvolvimento (Infância / Adolescência)
Gosto de chamar essa fase de desenvolvimento de "Herança Não Genética".
Muito se fala sobre características biológicas transferidas a nós por nossos progenitores.
Genes que predispõe a doenças ou a especificidades na composição corporal.
Mas, sinto uma negligência de atenção dada à herança não genética.
Nessa fase da vida, nossa interação com o mundo limita-se a nosso lar.
Aprendemos a nos comportar e a viver, de forma geral, observando a nossos semelhantes.
Da mesma forma que um filhote de pato aprende a ser pato observando a sua mãe.
Aprendemos a comer, a nos exercitar (ou não), a como dormir e todo o resto.
Perguntas que podem guiar sua pesquisa por comportamentos desse período:
Como era a alimentação dos seus pais e da sua família nesse período?
Como era a prática de exercícios físicos e a relação com o corpo?
Existe algum alimento que te faça lembrar desse período ou de alguém em específico?
Algum dos seus comportamentos atuais te parece herdado dessa época?
O que mudou na sua rotina se comparada à de seus familiares?
Qual era a saúde física, mental e social proporcionada por esse ambiente?

O Carlos adulto tem tido mais dúvidas do que aprendendo, ultimamente…
Vida Adulta
Quando digo vida adulta, entendo como o grande período que segue o momento que deixamos a segurança da casa dos nossos pais (ou o lar onde crescera sob a supervisão de alguém).
A grande mudança aqui não é apenas a mudança física de ambiente, mas também a postura de independência e responsabilidades que implicam em se tornar um adulto.
Saímos dos lares de nossos pais parcialmente formados, com bagagens emocionais, valores e uma identidade pré-definidos.
Seguimos em formação até o fim dos nossos dias, porém grande parte daquilo que acreditamos ser já está sedimentada a esta altura.
Os grupos de amigos que construiremos, os ambientes que frequentaremos e todas as escolhas que se seguirão terão de agir sobre essa bagagem inicial.
Aqui, gosto de deixar livre para que cada um defina o número de cenários que julgar necessário.
Pessoalmente, vejo diferenças marcantes em algumas etapas, como faculdade, recém formado, pós-graduação de nutrologia, início da prática de crossfit...
Estes são apenas alguns dos momentos que marcaram grandes viradas comportamentais e de hábitos, criando cenários únicos e com peculiaridades distintas.
Você pode criar quantos quiser, desde que identifique os dois mais importantes:
Pior cenário: período em que viveu e/ou colheu os piores resultados (pensando em peso, emagrecimento ou saúde);
Melhor cenário: fase da vida em que vivenciou sua melhor forma física, peso ou bem-estar (se nunca teve um cenário destes, pense no que mais se aproxima do seu estado desejado);
Observação importante: estamos analisando nossa história com uma visão focada no controle de peso, emagrecimento e saúde, logo, não necessariamente (mas frequentemente), todas as áreas da sua vida estarão prósperas e positivas.
É comum vivenciarmos um bom momento profissional simultâneo a um péssimo momento físico, e vice-versa.
Eventualmente concentramos energia em uma área específica, o que resulta em menor atenção em outras. O equilíbrio é uma falácia.
Perguntas que podem guiar sua pesquisa por comportamentos desse período:
Qual foi o período em que vivenciou sua melhor versão?
Qual foi o período em que vivenciou sua pior versão?
Como era sua alimentação nessa época?
Como era sua rotina de exercícios físicos nessa época?
Quais outros hábitos você tinha nessa época?
O que você segue fazendo atualmente?
O que você poderia retomar visando melhorar seus resultados atuais?

Divisão Categórica
Uma alternativa à divisão cronológica, é investigar seu passado separando as perguntas por categorias.
Proponho que utilize três grandes áreas: Alimentação, Atividades Físicas e Hábitos.
Perguntas para guiar a investigação da Alimentação:
Você já fez dieta ou tentou controlar seu peso no passado?
Como e quando foi essa tentativa?
Quais os resultados você obteve?
O que funcionou na época?
O que não funcionou na época?
Como afetou sua vida social?
Como afetou sua vida pessoal?
Como afetou sua vida profissional?
O mesmo pode ser replicado para Atividades Físicas:
Você já fez alguma atividade física ou esporte regularmente no passado?
Como e quando foi essa tentativa?
Quais os resultados você obteve?
O que funcionou na época?
O que não funcionou na época?
Como afetou sua vida social?
Como afetou sua vida pessoal?
Como afetou sua vida profissional?
Por fim, perguntas menos padrões para te guiar quanto à outros Hábitos:
Como era seu sono em cada fase da vida?
Qual era sua rotina de sono? Você dormia mais, menos ou igual atualmente?
Você era mais ou menos estressado que atualmente?
Como você se sentia em cada período (bem-estar)? Mais ou menos ansioso? Mais ou menos disposto?
Você já teve o hábito de ler/estudar sobre assuntos não relacionados à sua profissão?
Que ambientes você frequentou em épocas diferentes?
Qual a influência desses ambientes no seu comportamento da época?

O segredo é saber onde procurar no meio de tanta informação
Como analisar estes dados?
Quando o assunto é passado, costumamos tomar posições extremistas.
Fingir que ele não aconteceu e se negar a revisitá-lo é a resposta mais comum quando as memórias não são agradáveis.
Apesar de compreensível, essa postura te fará repetir os mesmos erros infindavelmente.
É como ter uma pedra dentro do seu sapato, e se negar a parar de caminhar para tirá-la de lá.
A pedra não vai sumir sozinha, e a cada passo que der, machucará ainda mais.

Não custa nada fazer uma pausa e tirar a pedra antes de continuar a correr…
O extremo oposto é a escolha de outros, e isso pode acontecer tanto com lembranças boas quanto com lembranças ruins: reviver a todo momento o que já passou.
Essa postura melancólica e saudosista te prenderá em um loop de memórias, que acaba funcionando como uma areia movediça.
Paralisa teus movimentos enquanto lentamente te suga para o mesmo desfecho inevitável, a estagnação.
Raramente posicionamentos extremistas são a melhor escolha.

Você quer mesmo se afogar na areia do passado enquanto segue imóvel no presente?
Existe sempre um caminho do meio.
Precisamos aprender a olhar para as escolhas que fizemos de maneira cética e analítica sem perder a capacidade de sermos empáticos conosco mesmo.
O seu eu do passado pode ter sido relapso, irresponsável e inconsequente, mas afinal, existem melhores adjetivos para definir a juventude?
"WYSIATI"
WYSIATI é um conceito psicológico interessante que aprendi tempos atrás, enquanto estudava sobre investimentos de risco e bolsa de valores.
O acrônimo vem do inglês, e significa: "What You See Is All There Is", que traduzido ao pé da letra seria algo como: "O que você vê é tudo que há".
Seu criador (Daniel Kahneman, vencedor do Prêmio Nobel de Economia) descreve a tendência das pessoas em basear suas decisões apenas nas informações que estão disponíveis no momento, ignorando o que não é imediatamente visível.
É óbvio, mas quantas vezes nos punimos e cobramos de não ter previsto que algo daria errado?
Fazemos isso com frequência, e quase nunca paramos para pensar que, no momento da tomada de decisão, aquela era de fato, a melhor escolha.
Despersonifique os eventos
Experimente revisitar sua própria história em terceira pessoa.
Imagine que sua história é a história de um amigo querido que lhe buscou buscando ajuda.
Como você o trataria? Ouviria com atenção e empatia? Julgaria severamente seus atos e escolhas?
Aposto que pensaria duas vezes antes de ser rude ou grosseiro em sua devolutiva.
Então porque fazer isso consigo mesmo?
Aprenda com seus erros
Quando olhamos para nossa história, devemos sempre analisar os eventos com uma visão cética.
Busque identificar padrões recorrentes, situações semelhantes e eventos repetitivos.
Correlacione hábitos chave, gatilhos emocionais ou mudanças do ambiente com os desfechos.
É bastante comum encontrarmos insights como:
Ganho/perda de peso ao mudar ambiente de trabalho
Mudanças de comportamentos ao adentrarmos novos grupos de amigos
Eventos compulsivos quando submetidos a momentos de estresse (términos, lutos ou similares)
Compartilhe sua história com quem entende do assunto
A visão neutra de alguém não envolvido emocionalmente com sua história e capacitada no assunto (técnica e pessoalmente) pode trazer uma percepção única e diferente dos fatos.
Você só precisa manter-se disposto a escutar opiniões contrárias e curioso por novos conhecimentos.
Tente absorver o maior número de informação e devolutivas sem levar para o pessoal, afinal, não é você quem está sendo criticado, mas sim sua versão do passado (imatura e despreparada).
Desenvolver a habilidade de participar de um debate criativo e construtivo buscando pontos que desconstruam suas próprias teses e opiniões é crucial para evoluir.
Ser humilde para mudar de opinião é um exercício, e como tal, se torna mais fácil com a repetição.

Parece difícil, mas quando as engrenagens encaixam, o plano começa a funcionar!
Crie um plano de ação
Empatia não é sinônimo de complacência.
Identificar os erros e padrões nocivos do passado que não se mostram compatíveis com sues objetivos atuais não resolve o problema.
Você vai precisar alinhar sua realidade presente e criar medidas práticas se quiser mudar seus desfechos futuros.
Sugiro que vá devagar. 🐢
Escolha um ou dois hábitos/comportamentos para trabalhar por vez.
Quanto mais antigo, mais persistente um hábito tende a ser.
Ele foi construído e consolidado através de milhares de repetições durante anos.
Não espere que seja substituído facilmente por um novo comportamento em pouco tempo.
📍 🥵 "Skin in the Game":


Expectativa: Manutenção do Peso Ideal (83.0kg)
Realidade: -0.9 kg
📝 Oscilações aceitáveis do peso. Sigo um pouco acima do peso ideal planejado, mas tendo em vista a participação em um campeonato de crossfit em 30 dias, optei por manter a fase de manutenção até a data, para evitar lesões ou quedas de performance.
⏬ 🧠 "Download Mental":
Esta é a terceira edição da nova newsletter do Matheus de Souza, um dos escritores brasileiros contemporâneos que mais acompanho. Os temas tem sido focados em autonomia e as experiências únicas de vida do autor (ex-nômade atualmente expatriado) trazem uma perspectiva interessante para algo que vem sendo tema de infindáveis reflexões para mim.
💚 ☕ 🍋 Torta de (C)limão

A não tão boa surpresa de chocolate tinha uma “camada” de limão… Comi da mesma forma…
Pedi essa "torta de limão" sem vê-la, acreditei no cardápio.
Quando chegou, descobri que na verdade, era uma torta com base de chocolate e, uma cobertura, fina (e quase sem gosto) de limão.
Minha primeira reação foi a decepção e, de certa forma, um sentimento de traição.
"Não era o que eu queria".
Após alguns segundos de luto, dei uma primeira garfada e, confirmei que não era nem de longe o sabor que eu queria sentir.
Muita coisa na vida não acontece como queremos.
Muita coisa não é como gostaríamos.
Eu até poderia cancelar o pedido da torta ao vê-la, o que seria no mínimo desagradável e, sinceramente, fugiria do meu perfil.
Entretanto, a grande maioria das coisas que não gostamos e não queremos, não estão sob nosso controle.
Só nos resta aceitar, e encontrar a beleza nas imperfeições.
"Amor fati" é isso: a decisão de abraçar a vida e transformar desafios em oportunidade.
"O que você pode ressignificar na sua vida e passar a enxergar como uma oportunidade?"
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Werde der du bist 🪞🎯
Câmbio,
Carlos E. Silva
